Editorial 12

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De olho na Amazônia

No último ano do século passado circulou pela Internet do Brasil, uma notícia dando conta da existência, nos Estados Unidos, de um novo mapa da América do Sul, segundo o qual a Amazônia não mais pertencia ao nosso país. No ano passado, nova informação ainda veiculada pela rede mundial, divulgava que as crianças americanas estariam recebendo aulas de geografia onde a floresta amazônica era apresentada, em mapas e livros, como área independente e tida como "reserva internacional da humanidade". Nas duas ocasiões, a grande imprensa brasileira noticiou não as informações em si, mas a forma como elas foram divulgadas e provou com documentos e demonstrações aceitáveis que os fatos eram inverídicos e seriam forjadas por "antiamericanos". As notas de rodapé em inglês, contidas nos mapas, teriam estrutura frasal inaceitável, provando assim que foram redigidas em português e vertidas ao inglês por brasileiros contrários à grande potência do hemisfério norte.

Agora, em maio de 2002, circula novo e-mail distribuído em massa pela grande rede, como das vezes anteriores, contendo o texto de pronunciamento feito pelo ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, em "debate recente numa universidade dos Estados Unidos" sobre a Internacionalização da Amazônia. O novo e-mail diz que as palavras do ex-governador foram publicadas nos grandes jornais internacionais, mas não houve qualquer referência a elas no Brasil. Na verdade há um engano, pois se trata efetivamente de artigo publicado no Brasil por Buarque em outubro de 2000, no jornal O Globo, referindo-se ao mencionado "debate" que realmente aconteceu. O ex-governador e articulista cita textualmente em defesa do seu país: "Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço", defendeu Buarque.

Aqui neste espaço, em maio de 2000 no primeiro editorial, dizíamos que "... é imaginável as grandes potências se apropriando da Amazônia, a maior reserva de água doce da Terra, em nome de uma dita globalização ou de um suposto patrimônio da humanidade..."

É possível extrair de tudo isso, não há dúvidas, que o mundo e especialmente os americanos estão de olho em nosso território. Apesar dos desmentidos da grande imprensa, esteja ela a serviço de A ou de B, de capitais nacionais ou internacionais, não é lícito ignorar os fatos. A reunião na universidade americana para discutir a "internacionalização" da Amazônia, um patrimônio nosso que desperta a cobiça dos poderosos, existiu realmente. E, ninguém se iluda, não se tratam de interesses humanitários para preservar o oxigênio e a água do mundo. Buscam tão somente vantagens econômicas que visam lucros futuros a serem extraídos do nosso país, como está sendo feito com o patrimônio estatal brasileiro que flui além fronteiras, com a complacência e a subserviência de um governo envolvido em abafar escândalos e denúncias. Por certo, pouco tempo sobra para defender os interesses nacionais.

Apesar da omissão governamental, as previsões de que o mundo entrará em guerra pela falta de água em pouco mais de vinte anos, associadas ao fato de sermos a maior reserva de água doce do universo, preocupam e exigem que mais Buarques se prontifiquem a defender a soberania nacional. –12.06052002

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