Em maio deste ano um brasileiro desempregado tentou o suicídio ateando fogo ao próprio corpo, em frente a um canal de TV na Avenida Paulista, em São Paulo. O fato ocorreu na presença de populares e da polícia, avisada a tempo do que estava ocorrendo. O desempregado derramou uma garrafa de gasolina sobre a cabeça, encharcou a roupa com o combustível e, de fósforo na mão, ameaçava acender um palito ante palavras de policiais que tentavam demovê-lo do ato insano e injustificável. O desespero e a perturbação psicológica eram de tal ordem que não foi possível mudar a decisão do quase suicida. Ele acendeu o fósforo e se transformou numa tocha humana. Foi salvo graças à habilidade dos policiais que imediatamente ativaram extintores de incêndio e controlaram as chamas. À noite, salvo e sem ferimentos, o desempregado concedeu entrevista ao vivo a um programa de TV e disse que procurava pôr fim a um desespero incontrolável que enfrentava há vários meses. Enfatizou que não queria publicidade pessoal. Buscava tão somente chamar a atenção de alguém que lhe desse oportunidades para divulgar um CD, gravado com músicas de sua autoria. Era a forma que encontrara para driblar o desemprego. Ao que se sabe, seu intento foi inútil.

Em agosto presente, em plena campanha eleitoral para eleições presidenciais, outro trabalhador tentou o suicídio pelo mesmo motivo: o desemprego. Munido de cordas atadas ao pescoço, subiu a uma adutora aérea da Sabesp sobre o Rio Tietê, também em São Paulo, e tentou atirar-se para a morte pelo enforcamento. Como no caso anterior, foi impedido pela polícia. Em completo descontrole emocional, profundamente abalado e chorando muito, o desempregado se dizia em desespero às vésperas do dia dos pais. Implorou por um emprego, argumentando que tem profissão e não quer roubar.

Abstraindo possíveis doses de desequilíbrio emocional, os dois casos permitem uma conclusão: o desemprego está chegando a patamares alarmantes. A média de permanência nesta condição está por volta de um ano e meio. E, neste sentido, o trabalhador demitido e sem meios para manter a família, toma atitudes que oscilam entre a delinqüência, o crime e o suicídio.

Já se argumentou neste espaço que a execução de obras civis é um gerador de empregos e ferramenta para retomar o desenvolvimento do país. Neste sentido, foi noticiado por mais de uma vez que a transposição do Rio Francisco sairia do papel em curto prazo. Esta única obra pode gerar em torno de 184.000 novos empregos, mas nada acontece. Argumenta o administrador dos recursos que não há verba para iniciar os trabalhados. Assim como não há numerário para obras de abastecimento de água e tratamento de esgoto. O que fica no ar sem resposta é a pergunta sobre o que é feito com o dinheiro do FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço? Gerados para financiar o saneamento básico, esses recursos não têm sua destinação cumprida.

Recentemente, foi criada a cobrança pelo uso da água que aumenta a conta do consumidor final em 1,00 real por mês. Foi concebida para buscar recursos a serem aplicados na despoluição de mananciais. Vale dizer, para aplicar em obras de esgoto. Até o momento, não se tem notícias de projetos nem de obras com esses recursos. Sabendo que o gestor da receita é o mesmo do FGTS – o governo federal - é de esperar que nada mesmo se concretize.

Em síntese, o que se defende é a redução do desemprego pelo financiamento de obras para o saneamento básico. E, para isso, é suficiente usar os recursos, que estão disponíveis, em sua correta destinação.

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