Editorial 4

 

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Uma Ditadura Inadmissível

Finalmente os bancos brasileiros resolveram falar Português. A partir de agora, a Caixa Econômica Federal vai abandonar as abomináveis expressões em inglês para substituí-las pela língua pátria. O Banco do Brasil e o Banco Central fazem o mesmo. Fala-se até que a Febraban está recomendando aos associados que adotem postura semelhante, pois estaria havendo constrangimento por parte dos correntistas que, não entendendo os home banking, bankline e assemelhados do jargão bancário, deixam de usar certos serviços para não serem taxados de ignorantes. É digno de nota o procedimento do poderoso segmento bancário, ainda que tenha sido feito em benefício próprio e não em favor dos clientes, pois a razão real é que se estes não usarem o oferecido em outra língua, deixam de gerar maiores lucros aos bancos.

Mas isso não é suficiente. Uma reavaliação do setor deve ser feita também no que diz respeito às tarifas e à lentidão no atendimento. Valores exorbitantes são cobrados por serviços de pequena monta e até por serviços compulsórios, como o recebimento de salários, que obriga o trabalhador a pagar pela chamada manutenção da conta. Em muitos casos, mesmo que ele não queira ter conta em banco lhe é imposta tal situação, tendo que pagar pelo que não quer. No saneamento básico, especialmente no setor de água/esgoto, a fúria bancária se manifesta através dos valores exigidos para o recebimento de contas. São cobradas importâncias que oscilam em torne de R$ 1,50 por conta arrecadada que, em última instância, sai do bolso do consumidor.

As enormes filas, propositadamente geradas com o fim de retirar do caixa o cliente e joga-lo no tal home banking – quanto menos gente na fila, menos atendentes, menor folha de pagamento e menor despesa para o banqueiro - forçam-no a perder horas nem sempre disponíveis e exercitam os nervos de quem a elas é submetido. Imagine-se um opulento e sisudo banqueiro em uma das filas do seu banco. Teria ele paciência para suportar ou tempo para perder com isso? Certamente não, mas o cliente que, literalmente, lhe enche os cofres de dinheiro é desrespeitado e abandonado à própria sorte. Não há Procon, Código de Defesa do Consumidor, imprensa nanica ou grande imprensa - desta especialmente pouco se espera - ou qualquer instituição que o salve. Entra regime governamental e sai regime governamental, entra ditadura e sai ditadura política, mas uma coisa não muda neste país: o desrespeito imposto pela ditadura dos bancos.

É chegada a hora de mudanças profundas na sociedade, em benefício do cidadão comum. Não é mais admissível que se favoreçam apenas as empresas e os empresários detentores do poder econômico. -  4-14.11.2000

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