Entrevista |
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"Não esqueçam que, quando D. Pedro II era Imperador do Brasil, um americano quis tomar conta da Região Amazônica, argumentando que o rio Amazonas era afluente do rio Mississipi. Parece absurdo, mas isto realmente aconteceu." |
O problema é o gerenciamento Engenheiro civil, escritor, fundador e diretor do SAAE de Guarulhos (SP), Plínio Tomaz aborda a eficiência e o gerenciamento de serviços de água e esgoto e se posiciona "absolutamente contrário" à privatização do saneamento básico. Abaixo ele fala ao AQUA por e-mail, em entrevista exclusiva.
Plínio Tomaz, engenheiro e escritor. Aqua - Números divulgados pelo IBGE têm apontado valores caóticos para o saneamento básico. O atual Governo, por outro lado, cortou verbas do orçamento federal destinadas a esse setor. Na sua opinião, o que deve ser feito e como fazê-lo, para elevar o segmento da condição desfavorável em que se encontra a um patamar pelos menos satisfatório? Plínio Tomaz - Poucos ligam para o saneamento no Brasil. Lembro que quando o Fernando Henrique assumiu tinha feito um projeto no senado para o setor de saneamento básico e tinha dado uma entrevista animadora na revista da ABES. FHC assumiu em primeiro de janeiro e no dia 3 de janeiro revogou a lei que era dele e tinha sido aprovada no Congresso Nacional, pois já estava eleito. Espero que o governo Lula trate a área de saneamento como problema de saúde pública e não como problema econômico. Na revista da ABAS o maior geólogo do Brasil, o dr. Aldo Cunha Rebouças disse que no Piauí onde o presidente Lula esteve no "Fome zero" existem 3.200 poços artesianos perfurados e não foram instaladas bombas e nem feita a distribuição da água. Rebouças salientou ainda que o programa deve ser chamado de "Sede zero". Aqua - Investir em controle de perdas, especialmente em micromedição, seria um caminho? Plínio Tomaz - Já existem vários programas para controle de perdas. A questão é de gestão e não somente de técnica. Aqua - Todos os segmentos produtivos têm um percentual de perdas até que o produto chegue ao consumidor final. Assim, perde-se cerca de 40% na construção civil, 40% na produção de madeira, 45% na produção de grãos, etc. Na sua avaliação, qual seria o percentual de perdas aceitável para o setor de abastecimento de água? Plínio Tomaz - A AWWA (Américan Water Works Association) é a associação mais velha do mundo. Ela recomenda que as perdas de água sejam menores que 10% (dez por cento). Os Bancos internacionais para paises subdesenvolvidos como o nosso, recomendam o limite de perdas de 25% (vinte e cinco por cento). Este limite tem sido usado pelos administradores de água do Brasil como parâmetro, embora seja muito alto, pois podemos atingir níveis bem mais baixo como 12%, por exemplo. Aqua - No Brasil se perde até 55% de água, um índice elevado. O que fazer? Plínio Tomaz - O problema do Brasil é a eficiência. Isto eu descobri mantendo contato através de e-mail com o responsável pelo abastecimento de água de Denver nos Estados Unidos, onde existem 7% de perdas de água e é um serviço municipal não uma companhia. O grande problema no Brasil é o gerenciamento dos sistemas de água que deve ser apolítico, pois os investimentos para diminuir a perda de água não aparecem. Aqua - Privatizar o saneamento, como pretendia o Governo anterior, é uma solução? Plínio Tomaz - Absolutamente não! O grande problema das privatizações é o controle. Apesar de haver agências reguladoras na Argentina, Chile e Inglaterra, não há controle das empresas de abastecimento de água. Como um funcionário público que não é estável, ganhando pouco, vai controlar uma empresa milionária? É sonho o controle, veja o caso das empresas de eletricidade do Brasil. Aqua - As tarifas dos setores de telefonia e de energia elétrica não baixaram com a privatização. O segmento energia elétrica apresenta até uma certa ineficiência com apagões e falta de investimento. Estes exemplos não sugerem um pouco de cautela quanto a "privatizar o saneamento"? Plínio Tomaz - Em todos os trabalhos científicos que li a respeito de privatização das empresas de água, as tarifas de água subiram. Não conheço nenhum caso em que elas abaixaram. Em alguns paises o governo passou a arcar com parte dos custos. Na verdade, a chamada eficiência das empresas privadas provoca um aumento enorme nas tarifas. Veja o que aconteceu na Inglaterra e na Argentina. Aqua - Em recente comentário feito a este site o Senhor afirma que haverá guerras pela falta de grãos e não pela falta de água. Mas a falta de água pode ocorrer primeiro e então teremos uma guerra pela água antes de uma guerra por falta de grãos. Plínio Tomaz - O grande consumidor da água no mundo é a agricultura e a irrigação, chegando a 60% de todo o volume de água usado. Faltando água, as pessoas irão ter água para beber mas não para os grãos. Daí os grãos terem grandes problemas. Penso ter visto no jornal "A Folha de São Paulo" de fevereiro de 2003, o Egito mais uma vez ameaçando o Sudão com guerra por problema de água. Esta água é para agricultura e irrigação. Aqua - Então o Senhor não concorda com a teoria de que, no futuro, o Brasil será tão cobiçado quanto são hoje os paises do Golfo Pérsico? Eles pelo petróleo e o Brasil pela condição de possuir as maiores reservas de água doce do mundo? Plínio Tomaz - O Brasil tem 12% das reservas de água doce do mundo e 70% desta água está na Região Amazônica. O Nordeste tem somente cerca de 3% e a região sudeste cerca de 6%. No futuro teremos que fazer grandes transferências de água. Todos sabem que a região metropolitana de São Paulo importa 55% da água. A água vem desde o sul de Minas Gerais para São Paulo, passando por Mairiporã até 33 m3/s. Teremos que racionalizar o uso da água e mesmo assim trazer mais água de longa distância, como do Rio Ribeira do Iguape. O Brasil será no futuro o maior fornecedor de água mineral envasada do mundo. A minha opinião é que o recurso hídrico é do Estado e por ele deve ser controlado para o uso de todos. A Região Amazônica deverá ser controlada pelo "Projeto Sivam" do qual participei há alguns anos quando fazia parte do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) do Ministério de Minas e Energia. Fiquei surpreso em saber que não temos praticamente nenhum controle da Região Amazônica. Praticamente nada. É decepcionante. Não conhecemos nem os recursos minerais que lá existem. Não esqueçam que quando D. Pedro II era Imperador do Brasil, um americano quis tomar conta da Região Amazônica, argumentando que o Rio Amazonas era afluente do Rio Mississipi. Parece absurdo, mas isto realmente aconteceu. :entrevista plinio tomaz.htm-110303:
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