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10/02/2007
Pagamento antecipado da
água |
Antônio Linus Rech (*)
Grandes mudanças nos conceitos e processos empregados na
hidrometria estão para ocorrer nos próximos anos. Os atuais
medidores de água, os taquimétricos, volumétricos e similares,
estão com os dias contados. As indústrias fabricantes desses
equipamentos deverão inovar e diversificar suas linhas de
produção, sob pena de ficarem fora do mercado. As que fazem
essencialmente hidrômetros convencionais passarão por sérias
dificuldades. A causa de mudanças tão drásticas é a implantação
do pré-pagamento, largamente utilizado no setor telefônico e
agora chegando ao saneamento.
Na telefonia, o pagamento antecipado gera desconfortos aos
usuários pelos conceitos que as operadoras impõem. Lá, além de
pagar antes pelo serviço prestado, o usuário paga mais caro, o
que é incompreensível. Esta questão ainda não está presente no
saneamento mas, registre-se, não poderá ser dessa forma. Que se
paguem as mesmas tarifas ou tarifas inferiores, já que o
pagamento é antecipado, nunca valores maiores.
O sistema é teoricamente simples e sonhado há anos pelos
dirigentes comerciais das operadoras de água/esgoto. Em síntese,
o consumidor compra na farmácia, padaria, supermercado ou
qualquer estabelecimento do gênero, um cartão contendo certa
quantidade de créditos a serem convertidos em água. Um contato
telefônico com a operadora ou a transferência de informações
diretamente ao hidrômetro – um novo equipamento, diferente dos
atuais – libera o volume comprado. Seriam colocados à venda
cartões com volumes específicos de 5 m³, 10 m³, 20 m³ e por aí
vai.
Outra modalidade, mais eficiente e que certamente cairá melhor
no gosto do público, está em uso em Palmas (TO): o consumidor
compra tantos reais de água, de acordo com sua conveniência.
Neste caso, cada usuário tem seu próprio e único cartão
desenvolvido para receber e emitir sinais de rádio freqüência (RF).
Em vez de comprar um novo cartão a cada necessidade, o
consumidor leva seu cartão e o recarrega com créditos a serem
transformados em água, após transferir a informação ao medidor.
Tudo feito eletronicamente e de forma muito simples. Não há
necessidade nem mesmo de digitar dados ou fazer ligações
telefônicas. Basta passar o cartão em frente ao leitor instalado
dentro de casa e o sinal é transferido por ondas de rádio,
liberando a passagem de água.
Os benefícios desta segunda modalidade são enormes,
especialmente para as populações de baixa renda. Ao comprar R$
5,00 de água, o usuário está movimentando sofisticada tecnologia
na retaguarda que vai transformar o valor adquirido em litros
que lhe serão disponibilizados posteriormente. Para o usuário,
toda essa tecnologia é invisível, mas o fato de poder decidir o
quanto comprar de água é vantajoso. Experiências feitas em
Abadia de Goiânia (GO), demonstraram que a população aceitou o
sistema com pré-pagamento. O consumidor se mostrou satisfeito
pelo fato de poder decidir quando e quanto comprar de água.
Ficou facilitada a administração do orçamento doméstico.
Foram encontradas outras vantagens que previamente se
apresentavam como dificuldades, entre elas, a eliminação da
conta a ser paga em um determinado dia e com o valor montante do
consumo mensal. No novo sistema, a compra de água passou a ser
quinzenal ou semanal, de acordo com o dinheiro disponível no
bolso. A eliminação de futuros débitos pendentes, caso não possa
pagar a conta do mês, também foi citada pelo consumidor como um
benefício. Em resumo, houve flexibilização no pagamento que
agora é feito como se houvesse parcelamento do valor mensal. A
cada semana, ou mesmo a cada dia, é possível comprar o quanto
quiser de água.
O fato de ficar sem o produto, se não tiver dinheiro para novos
cartões ou novos carregamentos de créditos, é negativo para o
consumidor. Sem dinheiro, ele não tem água, assim como não tem o
cigarro ou o chopinho.
Para as operadoras, a inadimplência é reduzida a zero. São
eliminados integralmente os custos com leitura de hidrômetros,
emissão e entrega de contas e a mão-de-obra empregada nestes
serviços. Segundo especialistas, haverá diminuição de despesas
da ordem de 14%.
Os preços dos novos equipamentos são maiores do que os dos
hidrômetros atuais. Mas os benefícios operacionais,
especialmente a eliminação da inadimplência e o ganho na redução
de custos comerciais, viabilizam o projeto.
Tecnicamente, as alternativas são várias. Qualquer sistema
deverá ser dotado de uma válvula solenóide a ser aberta
eletronicamente, por equipamento que controla a existência de
créditos disponíveis, e ser fechada quando os créditos acabam.
Já existem estudos e softwares desenvolvidos para levar em conta
situações particularizadas, como o término de crédito em
horários inconvenientes. Se eles acabarem numa madrugada de
sexta-feira, por exemplo, automaticamente é antecipado um
crédito para consumo durante um ou dois dias. Na recarga
posterior do cartão, o valor antecipado será subtraído.
Os equipamentos a serem postos no mercado podem usar os atuais
hidrômetros que sofreriam adaptações ou seriam adicionados de um
módulo eletrônico, especialmente desenvolvido. Deverá
predominar, no entanto, o dispositivo que está em uso na cidade
de Palmas, onde estão instalados medidores eletrônicos sem peças
móveis. Esses aparelhos, uma novidade no mercado de medição de
água, estão em desenvolvimento há cerca de cinco anos em
Goiânia, com tecnologia e capital inteiramente nacionais. -
12042002.
(*) Antônio Linus Rech é engenheiro mecânico, administrador
de empresas, administrados público, consultor para o saneamento
básico e autor do livro "Água, Micromedição e Perdas".
Fonte: aqua.eng.br |
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