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Para exemplificar, já que de lá veio a proposta da nova tarifa, a
Sabesp coleta, mas não trata, 400 milhões de litros de esgotos
despejados diariamente nos rios da Região Metropolitana de São Paulo.
São 12 milhões de metros cúbicos a poluir mensalmente os rios Tietê e
Pinheiros.
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Certamente, Saturnino de Brito não concordaria com a qualidade atual
dos serviços. |
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Editorial 21 - 25/02/2017
Privatização e tarifa única para o saneamento
O Brasil deu os primeiros passos na busca de
eficiência no saneamento básico, com coragem e tarifas reais, por
volta dos anos 60 do século passado.
Foi nessa época, quando os serviços eram prestados unicamente pelos
municípios, que surgiu a necessidade de conscientizar o usuário que
o pagamento pelo serviço recebido é responsabilidade de cada um, e
não uma simples obrigação do Poder Público.
Saturnino de Brito (1864-1929), Patrono da Engenharia Sanitária e
Ambiental no Brasil, escrevia em seus trabalhos e proclamava em
palestras:
"Qual, pois, o motivo para não se pagar a água, desde que sua
distribuição seja feita por um serviço regular, que torne fácil a sua
aquisição... - Não pode subsistir a dúvida: - todo consumidor deve
pagar por medida, paga o que compra para se alimentar ou vestir-se,
como por medida paga a vela, o petróleo, o gás ou a eletricidade. E a
manutenção higiênica que indiretamente influi na coletividade?"
Era usual argumentar que o saneamento básico deveria ser
responsabilidade única dos governantes, pois afinal, "Deus dá a água
de graça e não se pode cobrar por ela". Esqueciam os defensores da
ideia que a água é gratuita nos mananciais, longe e poluída, e que
para limpá-la e colocá-la dentro da casa de cada um, existe um custo
real e alto.
Com o advento do Planasa (Plano Nacional de Saneamento Básico), criado
pelo governo militar de então, vieram as companhias estaduais e o
conceito de que o consumidor deve ser o pagador foi consolidado
definitivamente.
Muito se defendeu a cobrança de "tarifa justa" que remunerasse os
custos de produção e distribuição de água, bem como os de coleta,
tratamento e disposição final de esgotos.
Ao longo das décadas que se seguiram, a população aceitou que pagar é
um dever e passou a exigir melhores serviços, muito embora um razoável
e regular abastecimento de água continue sendo um sonho distante para
alguns. Em municípios da Grande São Paulo há casos em que o racionamento
persiste ainda hoje, apesar de os mananciais estarem repletos e a
"crise hídrica" estar superada. A Sabesp (Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo), responsável pelo fornecimento de água
à região, tem deixado a desejar neste quesito.
De lá para cá tem se falado com frequência na privatização dos
serviços de água e esgoto, e uma verdadeira luta existe, entre os
órgãos de defesa dos interesses da população e os gestores do
saneamento. Buscam o equilíbrio em favor de tarifas reais e capazes de remunerar os
serviços plenamente, sem extorquir do usuário.
Eis que surge a proposta de "tarifa única para o saneamento", em meio
às iniciativas - melhor dizendo, às imposições do Governo Federal, -
para a privatização geral do saneamento que, por si só, é suficiente
para mexer no bolso do consumidor. Por certo, o investidor
privado vai cobrar, além dos serviços prestados, o lucro do
investimento feito. E, todos sabemos, lucro para investidor não tem
limites.
Os defensores da tarifa única argumentam que o pagamento pela água e
pelo esgoto unificados, vai impedir que usuários se neguem a pagar a
tarifa de esgoto, se não tiverem o serviço completamente prestado,
isto é, com coleta, tratamento e disposição final.
Nada mais justo que a recusa ao pagamento, se um dos serviços não for
prestado. Como pagar pelo que não se consumiu? Ainda que a rede de
esgoto esteja disponível, não é aceitável exigir o seu uso se os
dejetos forem apenas coletados e despejados in natura nos
cursos d'água. O tratamento não está sendo feito e, como tal, não deve
ser pago.
Para exemplificar, já que de lá veio a proposta da nova tarifa, a
Sabesp coleta, mas não trata, 400 milhões de litros de esgotos
despejados diariamente nos rios da Região Metropolitana de São Paulo.
São 12 milhões de metros cúbicos a poluir mensalmente os rios Tietê e
Pinheiros. E querem cobrar por isso.
Certamente, Saturnino de Brito não concordaria com a qualidade atual
dos serviços prestados. Estamos longe da eficiência no saneamento
básico e não há sinais de que privatização e tarifa única possam
melhorar este quadro.
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