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31/12//2019

 

COP 25, variabilidade do clima,

segurança hídrica e alimentar

Gustavo Diniz Junqueira

e Benedito Braga (*)

Chuvas fortíssimas, concentradas e repentinas provocando grandes alagamentos.  Secas que se alongam por um período além do normal gerando problemas no abastecimento, na geração de energia e na atividade agrícola. Calor fora de hora, frio fora de época. Não há dúvidas de que vivemos atualmente uma grande variabilidade do clima e que este é um debate urgente e fundamental para as gerações atuais e futuras.

 

A COP 25 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019), realizada recentemente em Madrid, Espanha, trouxe discussões importantes, mas seus resultados foram pouco efetivos. Ao nosso ver, embora o debate esteja correto, há um foco excessivo em discussões conceituais e falta uma abordagem mais profunda em ações inovadoras, realistas e eficientes de mitigação, adaptação e finanças, como, por exemplo, a construção de infraestrutura de segurança hídrica, créditos de carbono e fundo de adaptação.

O ambientalismo radical culpa o setor produtivo, associando indiscriminadamente o uso do solo e da água às mudanças climáticas. É fato que o desmatamento ilegal deve ser combatido, bem como as nascentes dos rios e as áreas de preservação permanentes precisam ser cuidadas. No entanto, é ilusório defender a não utilização de recursos naturais, principalmente da água e do solo, ou sua total recuperação. O que se pode e deve exigir é o uso consciente, equilibrado e calculado desses recursos.

Para os países mais pobres e em desenvolvimento, esse debate maniqueísta toma uma forma cruel e, na prática, inviável. É colocado quase como uma escolha terrível entre, de um lado, produzir alimentos e, de outro, preservar os recursos naturais intocados.

No Brasil, a agricultura é a forma de subsistência de grande parte da população e um dos pilares da economia. Ou seja, a vida de milhões de pessoas depende diretamente do uso dos recursos naturais. As exigências e restrições radicais que tentam ser impostas a todo tempo são armas letais contra a sobrevivência de uma nação e a vida de sua população. É preciso sim diminuir a emissão de poluentes. No entanto, mais do que reduzir, é necessário inovar e apresentar novos modelos de uso responsável, o que já é uma realidade no Brasil. Hoje temos consciência da necessidade do uso racional da água e outros recursos naturais para o abastecimento humano, a agricultura, o comércio e a indústria.  O agronegócio responsável, assim como todo o setor produtivo, se modernizou, adota cada vez mais soluções sustentáveis, sendo um exemplo no uso racional dos recursos naturais.

São Paulo, por exemplo, demonstrou em Madrid, nas reuniões da COP 25, uma redução superior a 9% das metas assumidas anteriormente em Paris. O Estado conta com programas importantes para cuidar dos recursos naturais, como o Programa Etanol + Verde, uma parceria público-privada que completa 10 anos e substituiu em 100% a colheita manual com queimadas pela mecanização da cana-de-açúcar; e o Programa +Gestão+Renda, que levará técnicas de gestão para que o produtor rural olhe para todo o seu território, sob a ótica ambiental, econômica e de gestão de riscos, com foco no aumento de sua renda.

A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente conta também com programas importantes na área, como o Município VerdeAzul, o Conexão Mata Atlântica e o Projeto Nascentes, que busca preservar as nascentes dos rios com foco nos problemas hídricos, o qual tem a parceria da Secretaria da Agricultura.

No caso da água, que é um dos elementos mais afetados pelo aumento da variabilidade climática, a Sabesp vem investindo na infraestrutura de segurança hídrica com grandes obras como a Interligação Jaguari-Atibainha e o novo Sistema Produtor São Lourenço, além da construção da nova barragem do Rio Pardo, em Botucatu. Ao mesmo tempo, a Companhia mantém grandes áreas de preservação e algumas, como o Sistema Rio Claro, são verdadeiros santuários ecológicos para preservação da qualidade da água.

Nos últimos cinco anos, São Paulo, Minas Gerais e Brasília viveram crises hídricas de proporções inéditas nestas regiões, mesmo sendo locais com regimes de chuvas bastante regulares.  O grande problema tem sido as grandes variações e a concentração dos volumes pluviométricos em determinados períodos e áreas.

O Brasil é reconhecidamente o País com o maior volume de água doce disponível em estado líquido, uma riqueza que atrai a atenção internacional. Mas precisamos ficar sempre atentos para o fato de que essa água não é bem distribuída, concentrando-se em algumas regiões. A Grande São Paulo, por exemplo, tem uma disponibilidade hídrica comparável à de desertos dada a concentração populacional.

Daí, reiteramos, vem a necessidade de planejar e construir estruturas para mitigar esses impactos nas áreas mais afetadas, como represas e interligações, além de mecanismos que evitem inundações como obras de macrodrenagem urbana.

Nenhuma escolha precisa ser radical. Há formas racionais e responsáveis de utilizar os recursos naturais, com bom planejamento, assegurando o presente e não comprometendo o futuro do meio ambiente e das nações, tanto daquelas que podem produzir, como daquelas que precisam consumir. O radicalismo reducionista descontrói a realidade e constrói esse falso dilema entre produção e preservação.

O foco da discussão são as mudanças climáticas, mas as ações e estratégias de atuação precisam de mais praticidade, eficiência e, acima de tudo, realidade.  Mais ainda, não é necessário que se coloque um “ou” quando se trata do uso de recursos naturais e sim um “e”: usarmos e preservarmos, cada vez mais, com consciência e inteligência, garantindo assim água e alimento para todos, cuidando do nosso presente e protegendo o nosso futuro.

(*) Gustavo Diniz Junqueira é secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e Benedito Braga é presidente da Sabesp.

 

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