Tarifa,
medição e cobrança: fonte de recursos próprios
Antônio Linus Rech
"O Banco
Mundial alerta: combater a ineficiência e o desperdício nos
serviços de infra-estrutura é tão importante quanto aumentar
os investimentos. No Brasil, devido às perdas, muitas vezes
se produz o dobro do necessário, com a duplicação de custos
de tratamento e transporte."
Os índices
brasileiros de perda de água oscilam entre 30% e 55%, isto
é, em alguns casos a produção é duas vezes o necessário,
duplicando também os custos de tratamento e transporte.
Administradores de empresas de água e esgoto alegam falta de
recursos financeiros para reduzir as perdas. Mas, quando
disponíveis, esses recursos ficam sujeitos a aplicações
equivocadas.
O índice de
inadimplência chega a até 40% e quando o consumidor fica sem
água são não pagar a conta esse índice cai para 5% ou menos.
De fato, as
perdas de água constituem, invariavelmente, causas de
desabastecimento, gerando de imediato a idéia de que é
nece3ssário ampliar o sistema produtivo. Nem sempre esta é a
solução recomendada. Quem sabe a solução é coibir
desperdícios individuais, mudando hábitos de consumo? Ou
eliminar perdas na produção, especialmente no transporte e
armazenamento?
Os serviços de
água e esgoto no Brasil são administrados pelo Poder Público
através de empresas mistas, autarquias e prefeituras
municipais, com exceção de alguns municípios que concederam
tais serviços à iniciativa privada. se a ausência de
recursos financeiros é impedimento para chegar a um
satisfatório grau de eficiência, a geração desses recursos
não necessita obrigatoriamente de agentes financeiros ou
protecionismos governamentais.
É sempre útil
lembrar que empréstimos, mesmo os de longo prazo, precisam
ser pagos. A eficiência dos serviços públicos de água e
esgoto pode ser amparada em três ações conjuntas que farão
gerar recursos próprios para os investimentos e custeios
inadiáveis; tarifa, medição e cobrança.
Tarifa -
Praticar tarifas justas e reais é uma necessidade, tanto
para quem fornece como para quem recebe os serviços. É
ineficiente a prática do clientelismo político que pretenda
fornecer água e coletar esgotos gratuitamente ou a preços
subsidiados. Assim como é utópico desejar bons serviços sem
a respectiva contrapartida. O consumidor precisa estas
consciente, ou ser conscientizado, de que a sua participação
é mais do que importante, é imprescindível.
O
administrador, por sua vez, alcançará melhores dividendos
pessoais e gratificação profissional com a implementação de
melhorias operacionais ou institucionais possibilitadas por
tarifas justas e reais, revertidas da comunidade. Tarifa
real é aquela capaz de remunerar os insumos necessários à
manutenção do sistema, sem penalizar ou favorecer o
contribuinte. E tarifa justa é aquela cobrada de acordo com
o consumo individual medido.
Medição -
Neste setor do saneamento, uma das mais eficientes
ferramentas gerenciais é a medição de água. A macromedição
permite avaliar as reais condições de um sistema de
abastecimento publico, assim como possibilita quantificar
corretamente os índices de perdas. Por outro lado, a
micromedição apura o consumo de cada economia, fornecendo
condições para cobranças individuais justas: paga menos quem
gasta menos. Além disso, a micromedição é um forte inibidor
do desperdício.
Experiências
de campo demonstraram que, em média, um economia com
hidrômetro consome até 20 m3/mês. enquanto outra sem medição
pode chegar aos 60 m3 mensais. A enorme diferença
verificada, superior ao dobro do consumo normal, é devida a
vazamentos internos que o consumidor, geralmente, só
conserta quando percebe os efeitos negativos no próprio
bolso. A mudança de hábitos inadequados - como manter a
torneira aberta ao escovar os dentes, varrer calçada com
mangueira e tantos outros - é alcançada com a cobrança pelo
volume consumido, o que só é possível com a hidrometração.
Cobrança - São
inquietantes os altos índices de inadimplência em serviços
que não suspendem o fornecimento por falta de pagamento. O
corte d'água se constitui num dos mais práticos e rápidos
disciplinadores. E é perfeitamente justificado: quando não
existe política de corte e cobrança o índice de
inadimplência chega até a 40% e quando o consumidor fica sem
água, se não pagar a conta, esse índice cai para 5% ou
menos.
A inexistência
de política de corte, seja por simples decisão
administrativa ou mero paternalismo gerencial, é injusta
pois penaliza os que pagam em dia em benefício dos
não-pagantes. E mais, compromete a saúde financeira da
instituição operador dos serviços.
Tomadas em
conjunto, essas ações constituem o tripé que sustentará a
eficiência e os investimentos futuros da instituição,
garantindo o fornecimento de serviços com qualidade. Dentre
elas, apenas a hidrometria exige certo volume de recursos.
No entanto, considerando que um hidrômetro se financia em
curtíssimo prazo - de seis meses a um ano - basta elaborar
um plano de instalações com adequado fluxo de caixa. Sem
dúvida, o investimento na hidrometria é o de mais rápido
retorno financeiro do saneamento, e é um gerador de recursos
para outros investimentos.
Exemplo
africano - Botsuana, um pequeno país da África, ostenta o
título de possuidor do mais eficiente serviço de água e
esgoto dentre os países em desenvolvimento. Lá, as perdas do
sistema são de 15%, qualquer atraso é punido com imediato
corte do abastecimento e, posteriormente, com cobrança de
taxa de religação. A média de inadimplência é muito baixa,
apenas 2%. E a tarifa progressiva é forte modificadora de
hábitos de consumo: se há condições desfavoráveis, como a
ocorrência de secas, as tarifas sobem de imediato, o que
reduz a demanda e evita racionamentos. É um exemplo da busca
de eficiência com a geração própria de recursos.
Nota: Este artigo foi publicado em 2001 e repaginado
em 03/01/2020, mantendo-se a formatação original do texto.
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