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Antônio Linus Rech

Jornal on-line de opinião, fundado em 15 de abril de 2004. A diagramação é boa com tela máxima

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Equipe Aqua            Ano 4, Nº 42 : São Paulo, 31 de julho de 2007

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Uma história leve, séria e atual.

 

 

 

Brasileiro cansado

"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-caráter, nem dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons!"

Martin Luther King.

Na luta por direitos sociais, a inércia e o comodismo do brasileiro são históricos. Os "caras-pintadas", ajudaram a derrubar o governo Collor, em 1992. Um pouco antes, o "diretas já" foi marcante no período militar. Na década de 60, o povo do Sul segurou João Goulart no poder com a Legalidade e, logo após, atos populares deram sustentação ao golpe de 1964 para derrubar esse mesmo governo.  Poucos são os exemplos significativos.

O brasileiro foi rotulado como pacífico, o "homem cordial" - identificado por Sérgio Buarque de Holanda - que prefere ficar em casa, comodamente assistindo às baboseiras da televisão, a se manifestar em praça pública. Diferente dos argentinos que enlaçam as mulheres e suas panelas, vão fazer barulho em frente à Casa Rosada e derrubam governos um após outro, até conseguir seu intento. Até mudar o país naquilo que é possível.

Agora, com o ápice da inércia governamental retratada em mais um acidente aéreo de enormes proporções - 199 mortos em São Paulo - o segmento rico da sociedade lança campanha pela mobilização popular. Apoiados por empresários e liderados pela OAB-SP, tentam levar o povo às ruas com o mote "Cansei". São os endinheirados que sentem água batendo na bunda e correm para evitar a inundação total. Dizem estar cansados de corrupção, de falta de ação do governo, de serviços públicos de má qualidade etc. Ainda não disseram estar cansados de ver miséria aumentando, de fome que mata, de falta de moradia, falta de emprego, falta de saneamento básico, enfim, falta das condições mínimas de sobrevivência, para os outros.

Em oposição aos ricos, os sindicalistas, possivelmente apoiados ou insuflados pelo governo que teme conseqüências adversas do movimento proposto, lançam o "Cansamos". Cansaram do "trabalho escravo, da sonegação de impostos, da mídia que não aborda os movimentos sociais, da mídia que criminaliza os movimentos populares" e outros argumentos. A CUT lidera a campanha e quer anular o "Cansei" dos ricos patrões.

Ao que se vê, a união necessária para o crescimento de movimentos populares está longe de acontecer. Continua prevalecendo o interesse corporativo ou individual, nunca o do bem comum. Não há patriotismo em nenhum dos "cansados" e a luta é pela salvação apenas do que interessa a cada um. Sem falar em interesses políticos, embora os dois lados afirmem que se tratam de atitudes suprapartidárias, apolíticas e em favor da sociedade.

Enquanto isso, enquanto um movimento anula o outro, o brasileiro continua em frente à TV, ouvindo silenciosamente a mentira institucionalizada, e o país segue envolto em corrupção, com enriquecimento ilícito, miséria crescente e locupletação pessoal de governantes, empresários e banqueiros.

E não há o que reclamar, pois o silêncio dos bons é tão comprometedor quanto a ação dos maus.

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