Leituras de domingo

"Como uma imprensa a serviço do saque e do dinheiro não pode fazer todo mundo de tolo durante todo o tempo, e..." .

Jessé de Souza.

O jornal Folha de S. Paulo publica excelente artigo de Jessé de Souza, escritor, professor universitário e presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), fazendo severas críticas à mídia brasileira e, consequentemente, à própria Folha.

O artigo intitulado "Quem deu o golpe, e contra quem?" foi publicado ontem (24/04) no caderno Ilustríssima, encarte dominical da Folha dedicado aos eruditos e à intelectualidade.

Informa cautelosamente o jornal no início da página, a título de resumo: "Para o autor, decisão da Câmara a favor do processo de impeachment da presidente Dilma ameaça a democracia. Em texto que retoma ideias já expostas aqui e em seu livro mais recente, diz que esta crise, como outras, contou com a manipulação, mediada pela imprensa, da classe média pela "elite de dinheiro".

Na verdade o que a Folha faz no início é um prévio alerta ao leitor que aí vem chumbo grosso contra a imprensa subserviente ao andar de cima.

De fato, Jessé inicia suas críticas à mídia afirmando que "É essa elite, cujo símbolo maior é a bela avenida Paulista, (...) que compra a política via financiamento privado de eleições; e que compra a imprensa e as redes de TV, cujos próprios donos fazem parte da mesma elite da rapina".

O autor refere-se a eleições passadas, pois a partir da próxima, salvo mudanças que poderão vir, o financiamento de campanha pelas empresas está vedado, o que dificulta a compra da imprensa e dos políticos. O financiamento de campanha pode ser feito apenas por pessoas físicas, que deverão comprovar a origem do dinheiro doado ao candidato.

Bem verdade que, com Eduardo Cunha continuando na presidência das Câmara dos Deputados, não será de admirar a edição de lei, ou mesmo emenda constitucional, para derrubar o que determinou o STF (Supremo Tribunal Federal), proibindo os financiamentos de campanha por empresas.

No parágrafo seguinte afirma o autor do artigo: "De acordo com a conjuntura histórica, sempre que o Executivo está nas mãos do inimigo, imprensa e Congresso, comprados pelo dinheiro, se aliam a um quarto elemento que é o que suja as mãos de fato no golpe: as Forças Armadas antes, e o complexo jurídico-policial do Estado hoje em dia".

Ao longo do texto o autor dedica algumas linhas ao suicídio de Getúlio Vargas, ápice de uma crise política tecida nos moldes agora empregados, e ao golpe de 1964, quando as Forças Armadas depuseram João Goulart. Diz ele que "Getúlio caiu, como o desafeto histórico maior desta elite, por um conluio entre Congresso comprado, imprensa manipuladora e Forças Armadas que se imaginavam pairar acima dos conflitos sociais".

Em todos os casos de ruptura institucional, a imprensa brasileira está a serviço de interesses nem sempre democráticos. É sabido que a mídia vive do anunciante, mas vive também dos assinantes e a ele deve respeito. Além do mais, os princípios éticos e morais apregoados em textos e mais textos nem sempre são respeitados.

Daí a revolta dos quem têm ao menos "dois neurônios intactos", livres do lamaçal de mentiras que é a mídia nacional.

Conclui Jessé de Souza: "Ainda que nossa classe média esteja longe de ser refletida e inteligente como ela se imagina, quem quer que tenha escapado do bombardeio diário de veneno midiático com dois neurônios intactos não deixará de estranhar o mundo que ajudou a criar: um mundo comandado por um sindicato de ladrões na política, uma justiça de "justiceiros" que os protege, uma elite de vampiros e uma sociedade condenada à miséria material e à pobreza espiritual. Esse golpe precisa ser compreendido por todos. Ele é o espelho do que nos tornamos".

Jessé confirma o que temos dito. No afastamento de Dilma Rousseff, ainda em curso, existe um conluio político-midiático-judicial que, a serviço de interesses setoriais e pessoais, cria um clima beligerante no país e o transforma numa república desacreditada e motivo de chacotas aos olhos do mundo. 

Além disso, provoca o caos interno conhecido e sofrido por todos, que a impressa e seus mantenedores atribuem maldosamente ao governo que tentam derrubar.     

Leia o texto completo:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/04/1763753-quem-deu-o-golpe-e-contra-quem.shtml