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Equipe Aqua ANO 13 l Nº 76 l PUBLICADO EM 29 DE ABRIL DE 2016 |
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O poder emana da boca de um fuzil Os regimes de exceção foram a marca da segunda metade do Século 20, quando boa parte da América Latina sofreu intervenções militares. Assim foi na Bolívia, Peru, Uruguai, Argentina, Chile, Brasil e países da América Central. Cuba foi exceção por ter sido palco de um golpe aplicado por um grupo de revolucionários de esquerda, a destituir um governo de ultra direita. No final do século, nos anos 80, a democracia ressurgiu e parecia ter suplantado de vez os regimes de força, autoritários e sobretudo antidemocráticos. Puro engano. Os povos latinos da América seguem sua via crucis com os regimes de exceção. A democracia durou pouco. Em trinta anos apenas, os derrotados nas urnas não têm suportado essa condição e tramam armadilhas contra seus países. Note-se que em todos os exemplos havidos, exceto Cuba, foi a direita quem se mostrou incapaz de aguentar regimes democráticos, muito embora a ditadura econômica nada tenha sofrido nas mãos dos governos de esquerda. Banqueiros e financistas seguiram ganhando o mesmo ou mais, em qualquer regime. Somente no Século 21, já foram impostos, tentados ou estão em andamento quatro destituições arbitrárias de governos eleitos pelo voto popular, na América Latina. Venezuela, 2002 - O Exército venezuelano depôs Hugo Chaves por dois dias. Por incrível que pareça, em apenas 47 horas de governo, o novo "presidente", Pedro Carmona, dissolveu a Assembleia Nacional e anulou a Constituição de 1999. Mais intrigante foi o reconhecimento imediato do novo governo, pelos EUA e pela Espanha. Um fato chocante aos olhos do mundo, se for levado em conta que se tratam de países ditos democráticos. Mas o golpe foi frustrado. Ao prenderem Chaves, o povo reagiu e o reconduziu ao palácio Miraflores. Já tendo reassumido o poder, Hugo Chaves não poupou críticas aos golpistas, prendeu seus líderes e abriu o saco de acusações em direção aos EUA. Segundo ele, as ações contra seu governo foram realizados com o aval e o apoio financeiro de Washington. Algo semelhante ao que aconteceu no Brasil em 1964, quando porta-aviões dos EUA se posicionaram na costa brasileira para que seu aparato bélico agisse contra o Governo Goulart, caso necessário. O resultado é mais do que conhecido: 21 anos de ditadura. Honduras, 2009 - O presidente Manuel Zelaya foi preso na manhã de 28 de junho. Deportado para a Costa Rica em flagrante desrespeito à Constituição daquele país, que proíbe a extradição de nacionais, o governo foi declarado vago pela ação de militares. Honduras foi objeto de um clássico golpe militar que fracassou na Venezuela, mas vingou em Tegucigalpa. A democracia foi posta no lixo e também lá houve o beneplácito norte-americano, muito embora, Obama tenha declarado posteriormente: "Consideramos que o golpe ("coup") não foi legal ..." Perguntam os menos esclarecidos, por acaso algum golpe de Estado é legal? Paraguai, 2012 - O presidente Fernando Lugo foi destituído em 22 de Junho por um processo de impeachment aberto dois dias antes. Foi uma ação relâmpago motivada pelo impasse político que isolou o Paraguai das demais nações. Pela rapidez e por motivos que não convenceram como justificativa para o processo, a deposição foi considerada um golpe parlamentar ou golpe branco. À defesa de Lugo foram concedidas apenas duas horas, ferindo o direito ao devido processo legal. Brasil, 2016 - O impedimento de Dilma Rousseff está em curso. Com manobras do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o pedido de impedimento foi aceito e encaminhado ao Senado. A votação foi um verdadeiro circo de horrores provocado pelos deputados votantes, o que causou chacotas no mundo todo pelos pronunciamentos dos parlamentares, durante os quinze segundos de fama. Na sequência do processo, o Senado vota nos próximos dias a admissibilidade do julgamento que será feito, se admitido, sob o comando do Presidente do STF. Tudo indica, pela força política que no momento possuem os anti-petistas, que Dilma perderá o mandato num julgamento de "corruptos contra quem está isenta de crimes", segundo a imprensa internacional.
Na América Latina do Século 21, todos os casos tiveram a participação favorável às destituições ou a simples omissão das nações poderosas, especialmente os EUA. Nenhum país levantou-se para defender a democracia. A omissão norte-americana é criticada pelo fato de este ser o país que se arroga no direito de querer ditar os rumos do mundo. Todavia, quando se tratam de golpes impetrados pela direita, nada fazem. A omissão é a tônica, muito embora se diga um país democrático e defensor da democracia, o que é muito curioso para uma nação que possui um presídio como Guantânamo. Na verdade, os EUA se acham no direito de ditar os caminhos do mundo, não só nas Américas. Como exemplo, em 1993 invadiram o Iraque para destituir Sadam Hussein e impor a democracia naquele país, entre outros motivos, inclusive o simples interesse econômico. Quem lhes concedeu esses direitos ainda não foi explicado. No caso brasileiro, Barack Obama disse não interferir e estar tranquilo porque "o Brasil tem instituições fortes". Não se esperava atitude diferente, pois os governos de esquerda não inspiram simpatias aos ianques. A política intervencionista do império do Norte é clara, aberta e sem subterfúgios, como se fosse um direito líquido e certo a ele concedido. Tanto é que, na campanha das eleições para escolha do novo presidente, em curso, um dos fortes candidatos usa como plataforma a mudança "na política externa". Donald Trump, "discursando como candidato oficial após rodada vitoriosa, defende intervir menos", segundo a Folha de S. Paulo de hoje. E o mundo segue em silêncio e passivo, ante as aberrações de cunho internacional que se mostram abundantes. Retrocedendo ao Século 20, Cuba foi um raro exemplo de resistência, embora pague caro pelo embargo comercial imposto, que praticamente isolou o Ilha do resto do mundo. Cuba do século passado e América Latina do presente fazem lembrar o líder chinês Mao Tse Tung, ao declarar: "O poder emana da boca de um fuzil".
Quem tem a força
domina, até mesmo com a simples e cúmplice omissão.
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Publicado desde 15 de Abril de 2004 |
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