Para comprar água
engarrafada, quinquilharias eletrônicas, pipoca, balas, chocolate, batata
frita, capa para celular, pen drive, porta-documentos e muito mais,
não vá à Rua Santa Efigênia ou a um super-mercado. Tome o metrô ou um trem
da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e desfrute da
comodidade de receber a oferta em suas mãos, literalmente.
Ironias à parte, os serviços
de transporte coletivo prestados pelo Metrô de São Paulo e pela CPTM viraram um
comércio sobre trilhos, tal é a invasão de ambulantes que se espremem dentro
dos trens lotados, ofertando bebidas e bugigangas aos passageiros.
Para conferir, na manhã de hoje viajamos por
todo o percurso da Linha Vermelha do Metrô, da Barra Funda até
Corinthians-Itaquera. Tão logo
foram fechadas as portas,
ainda na Barra Funda, um ambulante se pôs a vociferar a plenos pulmões,
anunciando a novidade do momento: Um cabo adaptador para “seu celular e o
seu pen drive”. Usando a potente voz que Deus lhe deu, circula de um
extremo a outro do vagão, anunciando as facilidades e benefícios que a
novidade fornece, a preço extremamente convidativo. “Em qualquer loja de
eletrônico ele vai custar em média de R$ 20,00 a R$ 30,00. Aqui no Metrô a
gente vendia por R$ 10,00 cada um. Sabe quanto custa hoje? Olha só que
barato, só R$ 5,00".
Uma pechincha!
Ouça.
Alguns mostram boa educação
e elaboram verdadeiros discursos iniciais. “Bom dia, desculpe por incomodar
sua viagem e o seu descanso...”, mas só em palavras. Para circular pelo
trem, gritam nos ouvidos do passageiro e empurram, buscando espaço.
Chegando à estação Corinthians-Itaquera do Metrô, nos
deparamos com uma escada-rolante desmontada, ocupando espaço de passageiros.
Bem verdade que a estação é ampla e relativamente bem cuidada, mas o
trambolho amontoado num canto não faz bem aos olhos de quem já está com os
ouvidos cansados.
Percorremos também trechos
das linhas da CPTM que fazem o percurso Rio Grande da Serra-Luz, Luz-Barueri
e Júlio Prestes-Itapevi. O cenário é ainda pior. Se no metrô circulam dois
ou três ambulantes por vagão, nos trens da CPTM eles se qradruplicam. É uma
sinfonia ininteligível a poluir o ambiente sonoro, trazendo desconfortos ao
passageiro.
No último sábado (07/01)
enviamos e-mail ao Metrô de São Paulo, questionando sobre a invasão de
ambulantes nos trens da cidade. Até agora, estamos sem resposta.
Curiosamente, a fiscalização que inibe o
comércio ambulante no transporte público - um crime, segundo anúncios em
trens e ônibus - foi completamente suspensa no Metrô e nos trens da CPTM,
logo após anúncio do Governo do Estado, dizendo que pretende privatizar os
serviços.
Atitude como esta nos lembra os idos tempos
em que Fernando Henrique Cardoso colocou em marcha sua "Privataria Tucana" -
termo criado por Amaury Ribeiro Junior - e sucateou a telefonia, os serviços
elétricos e outros, para justificar a venda do patrimônio publico. Escapou
do sucateamento a Vale do Rio Doce, que foi vendida mesmo sendo rentável e
com dinheiro em caixa. Até hoje, fato incompreensível a qualquer economista
ou administrador.
Pelo histórico conhecido dos tucanos, com a
invasão dos ambulantes estaria o Governo de São Paulo seguindo o mesmo
caminho, no sentido de "sensibilizar" a população a pedir que a iniciativa
privada tome conta do serviço?
Será, mesmo?