O mundo nuclear, a ética e os acordos entre seus membros

O cogumelo atômico

As potências do mundo, os EUA e mais cinco países, acabam de liberar os embargos impostos ao Iran, por ter aquele país cumprido o acordo nuclear assinado em 2015. O Iran se comprometeu a efetivar ações que permitam reduzir o desenvolvimento de armas nucleares em seu território.

Em função disso, desativou 2/3 das centrífugas de enriquecimento de urânio, reduziu o estoque de urânio em 90% e passou a permitir que inspetores da ONU visitem suas instalações. Tais medidas retardam ou até impedem completamente o desenvolvimento da bomba atômica.

Em troca serão devolvidos ao Iran os US$ 100 bilhões congelados em bancos internacionais, e a União Europeia voltará a comprar petróleo do Iran, entre outras providências menos significativas. Por conta do acordo cumprido, já houve no último sábado (16/01) a troca de prisioneiros entre EUA e Iran.

As medidas foram anunciadas pela Agência Internacional de Energia Atômica.

O mundo todo observa com simpatia este desfecho, afinal mais um país fica impedido de fabricar a bomba atômica, o que é sempre desejável em favor da paz mundial.

Dois detalhes chamam a atenção.

Primeiro - O grande motivo para que o Iran aceitasse o acordo nuclear foi a devolução do seu dinheiro, sequestrado pelos bancos internacionais das potências que o forçaram a assiná-lo. Como assim? O sequestro de bens alheios é permitido na esfera internacional? Que se saiba, todos os países decentes punem o sequestro de bens, assim como o fazem com o roubo e o furto. Mas as grandes potências o praticam abertamente e todos engolimos em silêncio. Até mesmo porque, nada se pode fazer, é verdade, mas é atitude altamente questionável, discutível pela ausência de ética comportamental.

Segundo - Assinaram o acordo com o Iran cinco países do Clube Atômico (EUA, Reino Unido, França, China e Rússia) e a Alemanha. Esses países impuseram ao Iran, assim como coagiram os demais países, inclusive o Brasil, a desistir de possuir a bomba atômica, exceção feita a Israel, Índia, Paquistão e Coreia do Norte.

Estes últimos não ratificaram o TNP (Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares) e, como tal, estão livres de embargos e pressões de outros membros do  Clube Atômico.

No entanto, os signatários que já possuíam armas nucleares à época da assinatura, em 1968, continuam a fabricá-las, e se armam cada vez mais, muito embora tenham assumido o compromisso de "entabular, de boa fé, negociações sobre medidas efetivas para a cessação, em data próxima, da corrida armamentista nuclear e para o desarmamento nuclear", conforme estabelece o Art. VI do referido tratado.

Ou seja, o Clube do Bolinha Atômico tudo pode sobre a humanidade, até mesmo se valer de métodos e ações discutíveis, de tal forma que somente eles continuem a produzir a terrível arma, contrariando compromisso assumido. Aos demais resta o enfraquecimento bélico em nome da paz.

Esta posição é uma atitude kafkiana, uma visão unilateral. Correto seria que, além de impedir o surgimento de novas potências atômicas, os senhores do mundo se comprometessem e fixassem datas para desarmar seus próprios arsenais. Somente assim teriam credibilidade e legitimidade para exigir ou impor condições aos demais países.

Não é de se estranhar a surpreendente declaração do atual presidente norte-americano, o aparentemente mais humilde deles no pós-guerra, Barack Obama, na última terça-feria (12/01): "Os EUA são a nação mais poderosa da Terra. Ponto".

As atitudes do Clube do Bolinha Atômico explicam tamanha autoconfiança. Será que não explicam também certas aberrações, como o Estado Islâmico e seu terrorismo mundo afora?